Uma etnografia do povo indígena Kinikinau

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v19i38.555

Palavras-chave:

Etnografia. Povo Kinikinau. Família Aruák. Mato Grosso do Sul.

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar uma breve etnografia do povo Kinikinau, um povo Aruák, de língua Aruák (AIKHENVALD, 1999), que atualmente se localiza no sul do pantanal sul-mato-grossense e áreas adjacentes. Essa etnografia foi feita em decorrência do trabalho de campo feito por Oliveira (2017) para a realização de sua pesquisa de mestrado, o qual totalizou 82 dias morando entre esses indígenas. Realizamos a etnografia com vistas a apresentar um registro da visão da cultura material e espiritual dos Kinikinau atuais, seu conjunto de crenças e valores, mostrando sua percepção sobre sua própria história, sobre Educação Escolar Indígena e sobre os problemas que mais os afligem atualmente, como a questão fundiária e o acelerado processo de morte de sua língua ancestral.

 

Biografia do Autor

Gabriel Barros Viana de Oliveira, Universidade de Brasília

Doutorando em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Línguística da Universidade de Brasília (PPGL/UnB), sob orientação da profa. dra. Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. Possui mestrado em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da Grande Dourados (PPG-Letras/UFGD), realizando pesquisa sobre a língua Kinikinau (família Aruák), sob orientação do prof. dr. Andérbio Márcio Silva Martins. Graduado em Letras - Língua Portuguesa e Respectiva Literatura (Bacharel) pela Universidade de Brasília (2015). Pesquisador associado do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da Universidade de Brasília (LALLI-UnB). Dedica-se principalmente ao estudo das línguas da família Aruák (ênfase no Kinikinau e Terena), da família Jabuti, da família Tupí-Guaraní e do tronco Macro-Jê. Naturezas das pesquisas: descritivas e histórico-comparativas.

Andérbio Márcio Silva Martins, Universidade Federal da Grande Dourados

Professor Adjunto IV da Universidade Federal da Grande Dourados. Linguista de formação, ministra disciplinas relacionadas ao ensino de línguas indígenas, língua portuguesa e linguística no Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu, na Faculdade Intercultural Indígena. Também atua como professor de linguística no Programa de Pós-Graduação em Letras da mesma instituição, onde orienta pesquisas descritivas e histórico-comparativas de línguas indígenas brasileiras. Atua como coordenador do Laboratório de Línguas, Educação e Interculturalidade do Núcleo de Estudos Estratégicos de Fronteira. Também é responsável pelo projeto de pesquisa Documentação, Análise, Descrição, Comparação e Ensino de Línguas Indígenas Brasileiras, no qual conta com a colaboração de pesquisadores de diversas instituições e de diversas áreas do conhecimento, tanto das Humanas quanto das Ciências da Natureza. e das Exatas. Nos últimos anos tem colaborado com discussões acerca das políticas públicas de ensino, da pesquisa e da extensão voltadas para indígenas nas universidades públicas. Foi estudante da Universidade de Brasília, graduado em Letras-Português, com Mestrado e Doutorado em Linguística e continua vinculado à instituição na qualidade de pesquisador do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas (LALLI/UnB). Possui publicações de estudos descritivos, histórico-comparativos e de ensino de línguas indígenas. Também vem colaborando com discussões acerca da formação de professores indígenas (inicial e continuada) e da própria Educação Escolar Indígena, sobretudo entre os Guarani e Kaiowá do cone Sul do estado de Mato Grosso do Sul. Atualmente se encontra na coordenação do Grupo de Trabalho de Línguas Indígenas da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL) e sócio da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). 

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Publicado

2019-04-15

Como Citar

de Oliveira, G. B. V., & Martins, A. M. S. (2019). Uma etnografia do povo indígena Kinikinau. Tellus, 19(38), 157–180. https://doi.org/10.20435/tellus.v19i38.555

Edição

Seção

Dossiê 1: História Indígena, Etno-história e Indígenas Historiadoras/es: experiências descolonizantes, novas abordagens