Povos indígenas e negros nos Sertões do Leste: transição para a República e nacionalidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v19i38.515

Palavras-chave:

fronteira, nacionalidade, Botocudos, quilombolas, cidadania.

Resumo

Estudos sobre os povos chamados Botocudos, nas Minas Oitocentistas, são aqui aproximados aos aportes recentes sobre a presença de quilombos na região denominada Sertões do Leste, marcada por uma colonização violenta, com a ocorrência de escravização de indígenas e fugas de escravos negros. Para isso, são levantadas, nas fontes pesquisadas, informações relativas às complexas relações entre índios e negros escravizados que apontam para a formação de redes e conexões nas regiões de fronteira. A proposta se insere em uma tendência de estudos latinoamericanistas de articular a experiência indígena oitocentista à dos descendentes africanos, frequentemente abordados separadamente, nelas situando problemas relativos aos processos de cidadanização e transição para o trabalho livre na formação da nacionalidade.

 

Biografia do Autor

Izabel Missagia de Mattos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Izabel Missagia de Mattos, professora associada de Antropologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, na qual ensina em cursos de graduação e Pós-graduação nas áreas de História e Ciências Sociais, é autora de diversos artigos científicos e do livro Civilização e Revolta: os Botocudos e a catequese na Província de Minas (2004) -  trabalho premiado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS, 2003) -,  fruto de pesquisa de doutorado realizada na Universidade Estadual de Campinas, sob orientação do professor John Monteiro (1956-2013).   Atualmente vem investigando, com o auxílio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio de Janeiro, processos referentes à memória social, paisagem e patrimônio cultural  de povos indígenas em Minas Gerais. 

Referências

ACHTSCHIN, Márcio Santos. Mucuri: sociabilidades e cotidiano escravo no século XIX. 2006. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Severino Sombra (USS), Vassouras, MG, 2006.

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009

BASTIDE, Roger. Estudos afro-brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1973.

BRITO, Joaquim Marcelino de. Relatório da Repartição dos Negócios do Império apresentado à Assembléia Geral Legislativa na 3a sessão da 6a legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado e Negócios do Império. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1846. Disponível em: https://archive.org/details/rminimperio1846. Acesso em: 28 abr. 2018.

CARVALHO, Maria Rosário; REESINK, Edwin; CAVIGNAC, Julie (Org.). Negros no mundo dos índios: imagens, reflexos, alteridades. Natal, RN: EDUFRN, 2011.

CLAVERO, Bartolomé. Derecho indígena y cultura constitucional en América. México, D.F.: Siglo XXI Editores, 1994.

CÔGO, Anna Lúcia. História agrária do Espírito Santo no século XIX. A região de São Mateus. 2012. p. 111. Tese (Doutorado em História) - Univesidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2012.

DE JONG, Ingrid; ESCOBAR OHMSTEDE, Antonio (Org.). Las poblaciones indígenas en la conformación de las naciones y los Estados en la América Latina decimonónica. Ciudad de México: El Colegio de México/El Colegio de Michoacán/CIESAS, 2016.

DUARTE, Regina Horta. Histórias de uma guerra: os índios Botocudos e a sociedade Oitocentista. Revista de História, São Paulo, n. 139, p. 35-53, 1998.

EHRENREICH, Paul. Índios Botocudos do Espírito Santo no século XIX. Vitória, ES: Ed. IHGES, 2004. (Coleção Canaã, v. 21).

EMMERICH, Charlotte; MONTSERRAT, Ruth. Sobre os Aymorés, Kréns e Botocudos. Notas Linguísticas. Boletim do Museu do Índio, Rio de Janeiro, n. 3, p. 5-42, 1975. Antropologia.

ESPÍNDOLA, Haruf Salem. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: Edusc/Univale/Instituto Terra, 2005.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes (O legado da “raça branca”). 5. ed. São Paulo: Globo, 2008.

FERREIRA, Talita Almeida. Contato, territorialização e conflito no Posto Indígena Caramuru-Paraguassú: Baenã, Gueren, Kamakan, Maxakali, Pataxó e índios de antigos aldeamentos no sul da Bahia, 1910-1936. 2017. 229 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, 2017.

FREIREYSS, George Wilhem. Viagem a varias tribus de selvagens na capitania de Minas Gerais; permanência entre ellas, descripção de seus usos e costumes . Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v. VI, p. 236-52, 1901.

GALVÃO, Eduardo. Áreas culturais indígenas do Brasil: 1900-1959. In: ______. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 193-228.

GOLDMAN, Marcio. “Quinhentos anos de contato”: por uma teoria etnográfica da (contra)mestiçagem. Mana, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 641-59, 2015

GOLDMAN, Marcio. A relação afroindígena. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 23, p. 213-22, 2014

GOMES, Flávio. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro no Brasil. São Paulo: Claro Enigma, 2015.

GOMES, Flávio. Indígenas, africanos y comunidades de fugitivos en la Amazonia colonial. Historia y Espacio, [S.l.], v. 6, n. 34, p. 1-21, 2012.

GONÇALVES, Andréa Lisly; MEYER, Marileide Lázara Cassoli. Nas fímbrias da liberdade: agregados, índios, africanos livres e forros na Província de Minas Gerais (século XIX). Varia Historia, Belo Horizonte, v. 27, n. 46, p. 645-63, jul./dez. 2011.

GORÍZIA, Frei Serafim de. Relatório do aldeamento central indígena N. S. dos Anjos. 2 de Arquivo dos Capuchinhos do Rio de Janeiro, Gav. 20, Pasta II, Doc. 25, janeiro de 1882.

HAESBAERT, Rogério; BRUCE, Glauco. A desterritorialização na obra de Deleuze e Guattari. Unbral Fronteiras, [S.l.], dez. 2002. Disponível em: http://unbral.nuvem.ufrgs.br/base/items/show/1545. Acesso em: 21 fev. 2019.

IANNI, Octavio. Ditadura e agricultura: o desenvolvimento do Capitalismo na Amazônia, 1964-1978. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

KEITH, Michael. The mirage at the heart of the myth? Thinking about the White City. In: GOLDBERG, David; SOLOMOS, John (Ed.). A companion to racial and ethnic studies. Massachusetts e Oxford: Blackwell Publishers, 2002. p. 323-39.

MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Revisitando a “transição para o trabalho livre”: a experiência dos africanos livres. In: FLORENTINO, Manolo (Org.). Tráfico, cativeiro e liberdade: Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 389-417.

MARCATO, Sônia de Almeida. A repressão contra os Botocudos em Minas Gerais. Boletim do Museu do Índio, Rio de Janeiro, n. 1, maio 1979. Ministério do Interior/FUNAI.

MARTINEZ, José Luis. Acerca de las etnicidades en la puna árida en el siglo XVI. In: ARZE, Silvia et. al (Org.). Etnicidad, economía y simbolismo en los Andes. La Paz, Bolívia: Hisbol/IFEA/SBH/ASUR, 1992. p. 35-65.

MATTOS, Hebe Maria; RIOS, Ana Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas. Topoi. Revista de História, Rio de Janeiro, v. 5, n. 8, p. 170-98, jan./jun. 2004.

MATTOS, Hebe. Escravidão e cidadania no Brasil monárquico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

MELATTI, Julio Cezar. Áreas Etnográficas da América Indígena. Brasília, [s.d.]. Disponível em: http://www.juliomelatti.pro.br/areas/00areas.pdf. Acesso em: 9 abr. 2015.

MIKI, Yuko. Frontiers of citizenship: a black and indigenous history of postcolonial Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.

MIKI, Yuko. Slave and citizen in black and red: reconsidering the intersection of african and indigenous slavery in postcolonial Brazil. Slavery & Abolition, [S.l.], v. 35, n. 1, p. 1-22, 2014.

MIKI, Yuko. Fleeing into black slavery: the insurgent geographies of brazilian quilombolas (Maroons), 1880-1881. The Americas, [S.l.], v. 68, n. 4, 2012.

MISSAGIA DE MATTOS, Izabel. Indígenas do deserto e do sertão nos contextos de formação de nacionalidades, século XIX. Habitus, Goiânia, GO, v. 14, n. 2, p. 213-26, jul./dez. 2016.

MISSAGIA DE MATTOS, Izabel. Povos em movimento nos sertões do Leste. In: LAGE DE RESENDE, Maria Efigênia; VILLALTA, Luiz Carlos. História de Minas Gerais: a Província de Minas. Belo Horizonte: Autêntica/Companhia do Tempo, 2013. p. 71-98.

MISSAGIA DE MATTOS, Izabel. A presença dos Aranã nos registros históricos. Habitus, Goiânia, GO, v. 3, n. 1, p. 41-79, jan./jun. 2005.

MISSAGIA DE MATTOS, Izabel. Civilização e revolta: os Botocudos e a catequese na Província de Minas. Bauru, SP: Edusc, 2004.

MONTEIRO, John. Guia de fontes sobre história indígena em arquivos públicos brasileiros, acervos das capitais. São Paulo: NHII-USP/Fapesp, 1994a.

MONTEIRO, John Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994b.

MOREIRA, Vânia Maria Losada. Entre índios e escravos armados: Alianças interétnicas e formação de quilombos na província do Espírito Santo, 1808-1850. Luso-Brazilian Review, Madison, Wisconsin, EUA, v. 51, n. 1, p. 36-67, 2014.

MURRA, John. El control vertical de un máximo de pisos ecológicos en la economía de las sociedades andinas. In: ______. Formaciones económicas y políticas del mundo andino. Lima: IEP, 1975.

OLIVEIRA Tatiana Gonçalves de. O aldeamento dos índios de Itambacuri e a política indigenista na Província de Minas Gerais (1873-1889). 2016. 121 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, 2016.

PALAZZOLO, Jacinto de. Nas selvas dos vales do Mucuri e do Rio Doce. Como surgiu a cidade de Itambacuri, fundada por Frei Serafim de Gorizia, Missionário Capuchinho (1873-1952). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.

PEREIRA, Walter L. C. Mattos. A trama do tráfico ilegal de africanos na Província do Espírito Santo (1850/1860). In: CONGRESSO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 11., 14-15 set. 2015, Vitória, ES. Comunicação [...]. Disponível em: http://www.abphe.org.br/arquivos/2015_walter_luiz_carneiro_mattos_pereira_a-trama-do-trafico-ilegal-de-africanos-na-provincia-do-espirito-santo-1850_1860.pdf

PEREIRA, Carlos Olavo da Cunha. Nas terras do rio sem dono. Belo Horizonte: Vega, 1980.

POHL, Johann Emanuel. Viagem no interior do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1976.

RADDING, Cynthia; LEVIN, Danna (Org.). Borderlands of the Iberian World: environments, histories, cultures. New York: Oxford University Press. No prelo.

RADDING, Cynthia. Naturalizing borderlands in time and space: imperial frontiers and historical indigeneities in the America. Habitus, Goiânia, GO, v. 14, n. 2, p. 5-19, jan./jun. 2017.

RAHIER, Jean Muteba. Mas allá del neo-esencialismo de los paradigmas del pluriverso, del giro decolonial e de los settler colonial studies en los estudios latino-americanos. Conferência realizada no Panel de Académicos Distinguidos "Perspectivas Sobre Raza y Etnicidad en América Latina". V ERIP, Morélia, México, 2017.

RESENDE, Maria Leonia Chaves de. Gentios brasílicos: índios coloniais em Minas Gerais setecentista. 2003. 388 f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, 2003.

RESÉNDEZ, Andrés. The other slavery: the uncovered story of Indian enslavement in America. Boston : Houghton Mifflin Harcourt, 2016.

RESTALL, Matthew (Org.). Beyond black and red: african-native relations in Colonial Latin America. Albuquerque: University of New Mexico Press, 2005.

RIBEIRO, Áureo Eduardo. Estradas da vida: terra e trabalho nas fronteiras agrícolas do Jequitinhonha e Mucuri, Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013.

SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce. São Paulo: Ed. USP, 1958.

SAMPAIO, Patrícia M. Política indigenista no Brasil Imperial. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (Org.). O Brasil Imperial (1808-1889). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 1, p. 175-206.

SASSOFERRATO, Frei Ângelo de. Synopse da Missão cathechética dos selvicolas do Mucury, norte do Estado de Minas Geraes. Esta Missão foi fundada em 1873, pelos Rev.mos Capuchinhos Seraphim de Gorizia e Ângelo de Sassoferrato no centro das matas, distantes 36 kilômetros ao sul da cidade de Theophilo Ottoni (antiga Philadelphia). Arquivo dos Capuchinhos do Rio de Janeiro, Gav. C, Pasta IV, 1915. 69 fls. Frei Serafim de Gorizia e Angelo de Sassoferrato.

SCHWARTZ, Stuart. Indian labor and new world plantations: european demands and indian responses in northeastern Brazil. The American Historical Review, [S.l.], v. 83, n. 1, xp. 43-79, fev. 1978.

SENNA, Nelson de. Discurso pronunciado como orador official, na sessão inaugural, da Academia Mineira de Letras, no Theatro de Juiz de Fora, a 13 de maio de 1910. Belo Horizonte, 1910.

SPOSITO, Fernanda. As guerras justas na crise do antigo regime português: análise da política indigenista de D. João VI. Revista de História, São Paulo, n. 161, p. 85-112, 2º semestre 2009.

WEINSTEIN, Barbara. Erecting and erasing boundaries: can we combine the "Indo" and the "Afro" in Latin American studies? EIAL: Estudios Interdisciplinarios de America Latina y el Caribe, [S.l.], v. 19, n. 1, p. 129-144, 2008,

Weyrauch, Cléia. Pioneiros alemães de Nova Filadélfia: relato de mulheres. Caxias do Sul, RS: Educs, 1997.

WHITE, Richard. The middle ground: indians, empires, and republics in the Great Lakes region, 1650-1815. 6. ed. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 1996.

Downloads

Arquivos adicionais

Publicado

2019-04-15

Como Citar

Missagia de Mattos, I. (2019). Povos indígenas e negros nos Sertões do Leste: transição para a República e nacionalidade. Tellus, 19(38), 49–77. https://doi.org/10.20435/tellus.v19i38.515

Edição

Seção

Dossiê 1: História Indígena, Etno-história e Indígenas Historiadoras/es: experiências descolonizantes, novas abordagens