História Ambiental no Alto Solimões, Amazonas: construções e (re)construções em comunidades indígenas e ribeirinhas a partir da dinâmica da vida e do trabalho

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v21i46.765

Palavras-chave:

Amazônia, conservação, sustentabilidade, populações tradicionais

Resumo

O presente artigo é parte do trabalho de tese de doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia e descreve o processo de construção e reconstrução histórica, ambiental, econômica, cultural e social de comunidades indígenas e ribeirinhas Amazônicas. Apresenta ainda, o saber destas comunidades como sustentáculo do manejo dos bens comuns e do sistema ambiental, apreendido em um passado vivenciado através das gerações, assim como na dinâmica da vida e do trabalho. A base metodológica utilizada foi a complexidade sistêmica e o estudo de múltiplos casos, complementada por diversas técnicas de análise e instrumentos de coleta de dados, dentre elas: observação direta do cotidiano, reuniões, oficinas, entrevistas, registro fotográfico e gravação de áudios, trilhas culturais, mapas mentais, grupos focais e diários de campo. Os casos escolhidos foram as comunidades indígena de Nova Aliança e ribeirinha de São José, localizadas no município de Benjamin Constant, região do Alto Rio Solimões, Amazonas, Brasil. Os levantamentos e as análises dos dados coletados em campo evidenciaram que nas duas comunidades, relações de parentesco, reciprocidade, topofilia, uso do solo, a cultura, os bens comuns e o sistema ambiental como um todo, são os princípios que norteiam o modo de vida e o cotidiano de trabalho dos indígenas de Nova Aliança e dos ribeirinhos de São José, desde sua origem. E é por meio deles que os moradores destas comunidades vêm construindo, transformando e expressando as suas relações sociais e suas ações, frente às emergências que surgem.

Biografia do Autor

Marcileia Lopes, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Doutora em Ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia. Professora de Carreira da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), lotada no Departamento de Ciências Florestais da Faculdade de Ciências Agrárias. Ministra as disciplinas de Perícia Florestal/Ambiental e Ética e Legislação Profissional para os alunos do curso de Engenharia Florestal e Agronomia.

Hiroshi Noda, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)

Doutorado e mestrado em Genética e Melhoramento de Plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Graduação em Engenharia Agronômica pela Esalq, da USP; e em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Santos. Atualmente é Pesquisador Titular Aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), pesquisador dos grupos de pesquisa do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos (NERUA), da Coordenação Sociedade, Ambiente e Saúde do INPA, e do Núcleo de Etnoecologia na Amazônia Brasileira (NETNO) da Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É docente do quadro permanente do Curso de Pós-graduação Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia do Centro de Ciências do Ambiente da UFAM e do Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido do INPA.

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Publicado

2021-03-16

Como Citar

Lopes, M., & Noda, H. (2021). História Ambiental no Alto Solimões, Amazonas: construções e (re)construções em comunidades indígenas e ribeirinhas a partir da dinâmica da vida e do trabalho. Tellus, 21(46), 53–83. https://doi.org/10.20435/tellus.v21i46.765