As condições sociais dos Avá-Guarani de Guaíra: o caso do Tekohá Marangatu e Tekohá Porã

Autores

  • Claudia Regina de Oliveira Mestre em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
  • Roberto dos Anjos Dias Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
  • Marli Renate Von Borstel Roesler Docente do curso de Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
  • Paulo Humberto Porto Borges

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v0i31.415

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de apresentar e discutir dados levantados em pesquisa de campo sobre as condições sociais e materiais em que se encontram os indígenas do subgrupo Avá-Guarani, nas aldeias Tekohá Marangatu e Tekohá Porã, no município de Guaíra (PR). Através de entrevistas e questionários semiestruturados, foram investigadas questões acerca da educação, aquisição de bens materiais e infraestrutura dos moradores. Além dos indivíduos da comunidade, foram entrevistados funcionários de órgãos que prestam serviços públicos aos indígenas no município. Constatou-se que os indígenas dependem quase que exclusivamente de programas sociais como fonte de renda. A existência de bens materiais como eletrodomésticos e eletrônicos são mínimos. Há diversos casos de suicídio de jovens com menos de 20 anos que indicam relação com a falta de qualidade e perspectiva de vida. Verificou-se que a atuação do Ministério Público Federal foi elemento de suma importância para garantir direitos básicos aos indígenas, como água, luz e alimentação. Também se observou que a Coordenação Técnica Local da FUNAI no município tem atuado em parceria com o Ministério Público, na garantia de direitos. O foco do trabalho do órgão indigenista tem sido a regularização de documentos civis. Ainda assim, percebe-se que a Coordenação não possui corpo técnico nem infraestrutura para atender com qualidade as comunidades. Por fim, o Centro de Referência de Assistência Social municipal demonstrou realizar atendimentos básicos, garantindo o acesso dos índios a programas sociais. Também se constatou que há certa dificuldade no atendimento devido à falta de documentação dos indígenas e à inexistência de atendimento especializado, faltando, entre outros motivos, agentes que falam a língua Guarani. Conclui-se que os indígenas se encontram em situação precária e que, embora a atuação dos órgãos públicos tenha sido fundamental para melhorar a qualidade de vida das comunidades, ainda resta muito o que fazer, e, para isso, é fundamental a demarcação dos territórios indígenas no município, como meio de acesso a políticas e serviços públicos.

Palavras-chave: Avá-Guarani; demarcação; vulnerabilidade social.

 

Biografia do Autor

Roberto dos Anjos Dias, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Mestrando em Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Marli Renate Von Borstel Roesler, Docente do curso de Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Doutora em Serviço Social pela Pontíficia Universidade Católica do Paraná - PUC/SP. É docente do curso de Desenvolvimento Rural Sustentável pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Paulo Humberto Porto Borges

Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Campinas (1990), mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2003). Atualmente é docente do curso de pòs graduação em letras da UNIOESTE.

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Publicado

2016-10-20

Como Citar

Oliveira, C. R. de, Dias, R. dos A., Roesler, M. R. V. B., & Borges, P. H. P. (2016). As condições sociais dos Avá-Guarani de Guaíra: o caso do Tekohá Marangatu e Tekohá Porã. Tellus, (31), p. 29–53. https://doi.org/10.20435/tellus.v0i31.415