Realidade linguística de estudantes indígenas em uma universidade Amazônica
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v21i45.763Palavras-chave:
sociolinguística, bilinguismo, valor funcional, indígenas no ensino superiorResumo
Pretende-se apresentar, neste artigo, os resultados de um levantamento sobre a realidade linguística dos indígenas da Universidade Federal do Oeste do Pará. Trata-se do resultado de uma pesquisa sobre o repertório linguístico dos estudantes, a sua situação de mono-, de bi- e/ou de plurilinguismo e sobre os usos das línguas faladas. O estudo foi realizado a partir das reflexões teóricas da Sociolinguística, na linha da Sociologia da linguagem (cf. DE HEREDIA, 1989; FISHMAN, 1964). Além dos aspectos sociolinguísticos, buscamos compreender se problemas de comunicação em Língua Portuguesa podem ser considerados como principal fator para um desempenho não satisfatório nos cursos de graduação dos referidos estudantes, conforme sugere discurso usual na instituição. Os dados analisados foram obtidos a partir da realização de entrevistas junto aos estudantes indígenas, ancoradas em questionário semiestruturado e, também, em observações da interação comunicativa dos alunos no espaço universitário. Os resultados mostram que, de 74 participantes, apenas 27 apresentam bi- e/ou plurilinguismo ativo nas línguas indígenas e no português, os demais, em sua quase totalidade, são monolíngues em português. Desse modo, embora se atribua à ausência de domínio do português a razão de os indígenas ficarem retidos nas disciplinas ou não concluírem seus cursos, esse não parece ser o principal problema.
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