Reflexões sobre o agronegócio e a exposição à pandemia da covid-19 nas terras indígenas Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v22i47.737

Palavras-chave:

Guarani Kaiowá, agronegócio, violência, covid-19

Resumo

O etnocídio é uma realidade cada vez mais próxima à medida que a covid-19 se espalha por Mato Grosso do Sul, MS, região onde predomina a etnia Guarani Kaiowá, a segunda maior etnia indígena do Brasil. Segundo o relatório anual apresentado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Mato Grosso do Sul é o estado onde mais se registra violência contra os povos indígenas. Um dos principais elementos para se entender esta escalada de violências é justamente a falta de demarcação de seus territórios tradicionais, afinal, com aldeias populosas e sem o rápido afastamento dos indígenas que estão inseridos como força de produção do agronegócio em Mato Grosso do Sul, o coronavírus encontrou o cenário perfeito para se disseminar de forma rápida. Neste texto de caráter ensaístico, pretendemos demonstrar uma visão sobre a vulnerabilidade desses povos à covid-19, que se agrava com o desmonte das políticas de saúde indígena, o sucateamento do órgão indigenista oficial e a desastrosa condução das ações pelo governo federal durante a pandemia. O presente estudo tem caráter crítico e reflexivo, e procura contribuir para a compreensão do contexto sociocultural e político em que os povos indígenas estão inseridos, usando como aporte metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, assim como a experiência de vida e campo dos autores.

Biografia do Autor

Cecilia Almeida Rios, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Mestranda em Antropologia e cientista social na Universidade Federal de Santa Catarina.

Antonio Hilário Aguilera Urquiza, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Doutor em Antropologia pela Universidade de Salamanca. Professor no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

José Henrique Prado, Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Mestre em Antropologia e cientista social pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

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Publicado

2022-06-15

Como Citar

Rios, C. A., Urquiza, A. H. A., & Prado, J. H. (2022). Reflexões sobre o agronegócio e a exposição à pandemia da covid-19 nas terras indígenas Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul. Tellus, 22(47), 9–33. https://doi.org/10.20435/tellus.v22i47.737