Cosmovisão Guarani, Terena e Kaiowá do Território Indígena Jaguapirú e Bororo: Coexistência entre Eu, Tu, Nós e os Outros agentes da história e da memória

Autores

  • Rosalvo Ivarra Ortiz UFGD
  • Almires Martins Machado Núcleo Jurídico do instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (INBRAPI), Brasília, DF, Brasil.

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v19i40.618

Resumo

Todo o contato entre povos diferentes, se não forem respeitados os princípios básicos de existência das sociedades envolvidas, criará uma relação desigual na convivência que se quer estabelecer, entre dois ou mais povos distintos no seu modo de ser e entender o mundo. A lógica é que se busque a estabilidade e segurança nas relações que não podem primar pelo etnocentrismo (ROCHA, 2007; BONTE; IZARD, 2008, p. 247-248), muito menos por verdades absolutas; caso isso venha a ocorrer, haverá um gritante desrespeito aos direitos humanos. Os relatos dos “descobridores” do novo continente, incessantemente, afirmavam e confirmavam a profunda solidariedade e humanismo (SOUZA FILHO, 1998, p. 13), demonstrados pelos habitantes do novo mundo; no entanto, em poucos anos de contato o conquistador, em prol dos seus interesses, aprisionou, escravizou, dominou a ferro e fogo os habitantes do novo continente, que antes era motivo de sua admiração. O contato entre os povos sempre foi marcado pela inconstância, estranhamento, horror e imposição por parte do mais forte ou do que dominava uma tecnologia mais avançada. Esse domínio, as suposições e conclusões a que o dominador chega, são frutos da forma como a sua cultura entende o mundo, dos princípios que valoram as suas vidas, dessa forma o outro sempre será inferior, quando não é considerado exótico. Historicamente nós, enquanto indígenas, sofremos de um mal pensado e praticado, é a invisibilidade, seguida de perto pelo silenciamento, apagamento, negação e exclusão na construção da sociedade brasileira, estereotipados como vagabundos, indolentes, indômitos, selvagens, preguiçosos, alcoólatras, ladrões, entraves para o progresso, juridicamente incapazes, sem história, sem cultura, povos do passado, primitivos, o outro sem valor. Observa-se outro tipo de invisibilização que neste caso é étnica, fluindo pelos mais diferentes caminhos, no entanto a mais letal e eficaz, ocorre nas escolas, nas salas de aula, por meio do livro didático e práticas pedagógicas que remetem a um enxugamento étnico, homogeneização, apagamento da sociodiversidade indígena. No contexto do contato entre povos é sabido que é oferecido ao indivíduo uma imagem ideal de personalidade, com isso quer se condicionar os comportamentos, a atitude mental e emocional pode ser neste momento definida por outrem. O contato entre povos indígenas e os não indígenas primou-se pelo desrespeito, violência, exploração e extermínio. Não foi visto humanidade no indígena, senão uma besta fera ou, posteriormente, uma ferramenta falante na afirmação de Aristóteles. Apenas o europeu era o civilizado, sujeito de direito, o negro da terra precisava ser dominado e escravizado, a quem se deveria fazer guerra, caso este oferecesse resistência à pretensão de domínio dos portugueses ou espanhóis.

Biografia do Autor

Rosalvo Ivarra Ortiz, UFGD

Possui graduação em Licenciatura plena em Ciências Sociais pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados- FCH/UFGD. Atualmente é acadêmico do Mestrado em Antropologia Sociocultural pela mesma instituição de ensino. Realiza investigação científica e epistemológica na Linha de Pesquisa intitulada: "Arqueologia, Etno-história e Patrimônio Cultural", vinculado ao Laboratório de Arqueologia- ETNOLAB/UFGD, sob a coordenação do Profº. Drº. Rodrigo Luiz Simas de Aguiar. É colaborador do espaço virtual METACURADORIA e PUBLIC ANTHROPOLOGY vinculado ao Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco- UFPE, sob a coordenação do Profº. Drº. Antônio Carlos Mota de Lima. É membro do grupo de pesquisa GIPEDAS - "Grupo Iberoamericano para Pesquisa e Difusão da Antropologia Sócio-Cultural" vinculado à Universidad de Salamanca- Espanha (USAL), sob a coordenação do Profº. Drº. Ángel Baldomero- Espina Barrio. O seu grande interesse está em torno da Antropologia da Arte, a partir de estudos e pesquisa empreendida acerca das artes, artefatos, objetos e Fala Sagrada dos grupos concernente ao Tronco Linguístico Guarani de Mato Grosso do Sul e Região Amazônica. Portanto, a grande área que o pesquisador tem interesse em atuar são as seguintes: Arqueologia, Antropologia, História- voltada para cultura material e cultura imaterial. 

Almires Martins Machado, Núcleo Jurídico do instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (INBRAPI), Brasília, DF, Brasil.

Doutor em Antropologia e Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Graduado em Direito pelo Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Membro do Núcleo Jurídico do Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (INBRAPI). Pertencente à etnia Guarani e Terena. 

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Publicado

2019-11-27

Como Citar

Ortiz, R. I., & Machado, A. M. (2019). Cosmovisão Guarani, Terena e Kaiowá do Território Indígena Jaguapirú e Bororo: Coexistência entre Eu, Tu, Nós e os Outros agentes da história e da memória. Tellus, 19(40), 213–231. https://doi.org/10.20435/tellus.v19i40.618

Edição

Seção

Escritos Indígenas