Uma organização que atravessa dois mundos: aprofundamentos sobre o hibridismo da Educação Escolar Avá-Guarani
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v21i45.710Palavras-chave:
Educação Escolar Indígena, escola indígena, Avá-Guarani, organização híbrida, burocraciaResumo
Dentre as diversas organizações formais/burocráticas presentes nas sociedades modernas, há uma de extrema importância: a escola. No Brasil, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a educação escolar indígena é assumida como modalidade educativa, sendo a escola indígena formalmente reconhecida. A escola indígena é compreendida nesse trabalho pelo seu hibridismo que carrega o traço étnico de cada população nela implicada. Nesse sentido, acredita-se que encará-la apenas nos aspectos burocráticos que a constitui não seja adequado. Por isso, ela poderia ser entendida como uma multiplicidade de processos entre estabilidade-instabilidade e desconstrução-construção. Este artigo tem como objetivo refletir sobre o hibridismo da educação escolar Avá-Guarani, propondo entender rupturas e aproximações com o conceito de burocracia. A pesquisa é de natureza qualitativa/interpretativista e o campo são as escolas Avá-Guarani do oeste do Paraná. Como principal resultado, afirma-se que a escola Avá-Guarani pode ser compreendida como local de aprendizagem, instrumento político pela luta da demarcação dos territórios indígenas, espaço afetivo e local de afirmação/ressignificação de conhecimentos. A escola como um espaço híbrido deve ser entendida para além da dicotomia conhecimento tradicional e não indígena.
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