O POVO DO RIO: VARIAÇÕES MÍTICAS E VARIAÇÕES ANTROPOLÓGICAS SOBRE A ORIGEM E A DIFERENCIAÇÃO DOS GRUPOS INỸ
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v18i36.489Palavras-chave:
Inỹ-Karajá, mitologia, dualismo em perpétuo desequilíbrio.Resumo
Os Karajá, Javaé e Ixỹbiòwa são três grupos indígenas que habitam a calha do rio Araguaia. Todos falam variantes de uma mesma língua (família Karajá, tronco Macro-Jê) e utilizam o mesmo termo de autodesignação: inỹ. As inúmeras similaridades entre eles tornam evidente que fazem parte de um mesmo conjunto. Por muito tempo, com efeito, os Javaé e Ixỹbiòwa foram tratados como “subgrupos” karajá, ao lado dos “karajá propriamente ditos”. A predominância desse modelo hierárquico, entretanto, acabou por eclipsar muitas das diferenças entre os três grupos. Esse texto trata das narrativas karajá sobre a origem e a diferenciação da humanidade inỹ, procurando extrair daí um modelo alternativo para pensar a relação entre os três grupos que fuja tanto de um esquema hierárquico (três “subgrupos karajá”), quanto de uma segmentação dura entre “três grupos distintos”; pois há, entre Karajá, Javaé e Ixỹbiòwa, não apenas diferenciações, como também identificações. O que a mitologia aqui tratada evidencia é que, desde o surgimento mesmo da humanidade, não há mais que uma polaridade elementar, aquela entre Eu e Outro, a emergir no seio de uma unidade aparente e replicando-se a cada novo nível de contraste, ou em cada nova “unidade”.
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