Sofrimento acadêmico e violência epistêmica: considerações iniciais sobre dores vividas em trajetórias acadêmicas indígenas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v20i41.640

Palavras-chave:

estudantes indígenas, sofrimento, universidade, políticas educacionais

Resumo

O objetivo deste texto é ressaltar a importância do tratamento do sofrimento psíquico em discentes pertencentes a populações indígenas em suas trajetórias acadêmicas na Universidade Federal de Goiás (UFG). Para tanto, foram realizadas análises a partir da experiência vivenciada por parte dos estudantes indígenas no curso de Educação Intercultural e nos demais cursos de graduação e pós-graduação da UFG. Na última década, tais contingentes populacionais têm acessado cada vez mais a academia, onde antes eram apenas excluídos. Desta forma, para que suas trajetórias acadêmicas, importantes para eles, suas comunidades, a universidade e o país, concluam-se com bem- estar e saúde, torna-se fundamental explorar todos os aspectos das políticas de permanência na universidade, como o sofrimento psíquico. Tendo em vista as abordagens presentes nos referenciais teóricos e metodológicos do grupo modernidade/colonialidade/decolonialidade, a hipótese presente em nosso estudo é de que há uma relação direta entre o sofrimento psíquico e a violência epistêmica.

Biografia do Autor

Alexandre Ferraz Herbetta, Universidade Federal de Goiás

Doutor em Antropologia Social pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mestre em Antropologia Social e graduado em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É professor associado da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde atua no Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Tem experiência nas áreas de Antropologia, Educação e Interculturalidade, com ênfase em Metodologias Participativas, Processos de Descolonização e Etnologia Indígena. É vice-coordenador do Curso de Especialização em Educação Intercultural, vice-coordenador do Estágio Docência Supervisionado do Curso de Educação Intercultural e membro da Sociedad Latinoamericana de Estudios Interculturales.

Elias Nazareno, Universidade Federal de Goiás

Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (UnB). Pós-doutor em Sociologia com bolsa do CNPq pela Universidade de Barcelona (UB). Doutor em Sociologia pela UB. Mestre em História pela UnB. Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Professor associado I do Programa de Pós-Graduação em História e do Curso de Educação Intercultural para Formação de Professores Indígenas da Universidade Federal de Goiás (UFG). Coordenador de Área do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência − Pibid/UFG e coordenador do Grupo de Pesquisa do DGP/CNPq, História Indígena e História Ambiental: Interculturalidade Crítica e Decolonialidade da UFG. Pesquisador associado sênior vinculado ao Laboratório e Grupo de Estudos em Relações Interétnicas (LAGERI) do Departamento de Antropologia da UnB e professor visitante da Universidade de Jujuy, Argentina. Integrante do GT de História Ambiental da ANPUH. Tem experiência nas áreas de Etno-História, História, Sociologia e em Relações Internacionais, atuando principalmente nos seguintes temas: educação intercultural indígena, história indígena e educação quilombola. 

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Publicado

2019-10-14

Como Citar

Herbetta, A. F., & Nazareno, E. (2019). Sofrimento acadêmico e violência epistêmica: considerações iniciais sobre dores vividas em trajetórias acadêmicas indígenas. Tellus, 20(41). https://doi.org/10.20435/tellus.v20i41.640